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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Complicity



Every night, it was the same. When the clock said time to go to bed, there were no arguments capable of removing this idea from Daddy’s mind. Time to go to bed was time to go to bed.
On my long way there, I had so many things to get done. Brushing my teeth and my hair; wearing my pajamas; making sure that my backpack would be organized for the next day; and grabbing Malu, my little cow, were just some of them. But, there was one thing for which I would never be responsible.
“Emily, look at this mess in your bed. How can someone sleep in here? ,” Daddy said it every single day, as though he wasn’t accustomed to it yet.
Still complaining, Daddy ordered me to lay down in my bed, so he could tidy it up. I obeyed and remained there, immobile. Then, Daddy stretched the edge of the sheet, covering my head, to fold it over the blanket later. For a little while, I disappeared. For a little while, I was invisible. No one, besides Daddy, could see me there. I was hidden under my sheet, and Daddy was the only one who could inform against me. He could be my traitor, but I had no doubts that, instead of it, he would be my accomplice and wouldn’t tell anyone that I was just right there.
One day, Meg, my older sister, came into my room when Daddy had just hid me. She was crying because she had, once again, lost her pacifier. I remember her pampered crying, just like a baby who is falling asleep, coming closer and closer. She would discover me. And, if she discovered me, no longer I would have my hideout. All of my body was petrified. One movement could have turned me in. However, Daddy was there to protect me. Therefore, he grabbed Meg in his arms and took her away from there, keeping safe our secret.
From that moment, our complicity had been signed, and our bond, deepened. And I? I had learned that, no matter how angry Daddy is at me, and even if I had led my bed a mess, he would always be willing to protect me.   

MaVi

#cumplicidade #complicity #protection #dad #pai #meuherói #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

domingo, 27 de julho de 2014

O Poeta

A única diferença entre o poeta e o não-poeta é que onde este enxerga o costumeiro, o usual e o ordinário, aquele enxerga tão somente, mas não apenas, o costumeiro, o usual e o ordinário dando origem à mesma história, numa nova versão.

A história sempre se repete; felizardos somos, pois, em ter quem a expresse de maneira tão naturalmente extraordinária.

#poeta #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

MaVi


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Amores Inventados - ÔNIBUS

Entrei no ônibus num dia pós noite mal dormida. O cabelo ainda molhado, a maquiagem feita às pressas e a cara de poucos amigos. Não me olhe com esse jeito de quem diz “bom dia”, velhinha dos infernos. Não fosse você quem sabe eu teria um lugar pra sentar.
             “Saldo indisponível”
            “Passa no crédito.”
            “Oi?”
            “Aceita débito?”
            “Você é idiota?”
            “Ahan, sou.”
            A catraca girou e meu cérebro quase foi jogado pela tangente. Queria vomitar meus próprios sentidos se possível. Meus olhos artificialmente abertos guiavam meus passos mecânicos até um mínimo espaço vazio no final do carro. Parei, em pé, ao lado da patricinha, tão majestosamente acomodada, que cheirava Dolce e Gabbana. Tão impecável! Deve tá enojada com a minha presença, Tadinha. Enfiei o fone nos ouvidos. Rock pesado pra ver se revivo. E imaginei o que aquela Barbie pensaria se ouvisse o que eu ouvia, enquanto o sertanejo da modinha rolava solto no seu iphone 5.
            Fiquei perdida no tempo, desejando a sorte que o azar daquele dia não traria. Dez, quinze, trinta minutos assistindo ao entra e sai das pessoas mais estranhas e bizarras. Cada uma com sua mania; cada qual com sua história; e eu, lutando pra me manter em pé.
            Eis que por alguns segundos eu despertei pra vida. Foi um curto instante, quando o toque desesperado de uma mão encontrou a minha junto ao apoio superior. Uma outra mão, vinda de um outro corpo que tentava, assim como o meu, se equilibrar. No meu virar de rosto eu não distingui os traços do seu rosto, mas vi os detalhes dos seus olhos que, como os meus, se mantinham fixamente abertos, e pude sentir o hálito de café que exalava da sua boca. Engoli em seco o gosto amargo do café que ainda revirava o meu próprio estômago.
            O ônibus parou novamente. Ele desceu. Eu quis chamá-lo, pedir que me olhasse de novo e só mais uma vez. Mas era tamanha a minha luta pra me manter ali em pé que eu mal tinha forças pra abrir a boca. Poderia ter sido um grande amor casual - eu pensei - mas, por culpa da minha preguiça de viver, foi só mais um na minha coleção de amores inventados. 
MaVi

#amoresinventados #omundodemavi

terça-feira, 15 de julho de 2014

Angústia

E um dia veio que ela se cansou de andar. Aquele andar em círculos, em vão. Nada fazia sentido, nem o caminho com suas flores, nem a paisagem com o seu horizonte. Toda a beleza ao redor diluía-se, desmanchava-se junto ao aperto que sentia por dentro, junto ao imenso vazio que a consumia. O único som que se ouvia era da sua respiração sufocante. Seu coração batia num ritmo insuportavelmente acelerado. Então, ela olhou pro céu. E nada. Nem a sua música predileta parecia querer consolá-la. Era como se ela vivesse num mundo de faz-de-contas. Mas um faz-de-conta sem príncipes e sem finais felizes. Não era dor. Lágrimas não existiam. Por mais que tentasse, sua angústia era seca. Foi-se o cor-de-rosa da menina que nela existia. Foram-se os sonhos que um dia nela brotaram. Não, não me acorde agora, eu não quero acordar, ela pensava. Eu quero ir além, quero saber o final desse pesadelo. Quero entender o porquê dele nunca me abandonar. Não se preocupe, menina, isso não é só sonho e ninguém irá acordá-la.

MaVi

#angustia #seraqueerasosonho? #omundodemavi

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Aquele Abraço

Havia algo de diferente naquele abraço, algo peculiar.

Ele cruzou o salão todo em direção a ela. Veio com calma, passos lentos e destino certo. Sabia bem onde queria chegar. Ela, em contrapartida, percebendo a movimentação e o olhar que a perseguia, desviou o seu próprio, fingindo-se alheia a tudo aquilo, mas incapaz de se retirar de cena, como se tentasse, em vão, disfarçar o que no fundo queria. Ele chegou, parou bem em frente a ela. Encurralada, ela elevou o olhar até os olhos que a admiravam fixamente. Aproximou-se sem quebrar o silêncio. Estendeu os braços de encontro aos braços estendidos que a esperavam.

Os dela por baixo, em torno da cintura, a cabeça encostada nos ombros dele, num movimento de quem pede, inconscientemente, proteção. Os dele por cima, em volta dos ombros dela, envolvendo por inteiro aquele pequeno e frágil corpo de menina, como quem oferece, conscientemente, a proteção requisitada. Os dele por cima e os dela por baixo, no sincronismo de um encontro entre bons e velhos conhecidos.

Permaneceram ali, abraçados em silêncio, durante um espaço de tempo suficiente pra que fosse dito entre eles tudo que as palavras não saberiam, nem conseguiriam dizer.

Descruzaram os braços; ela sorriu, ele sorriu de volta. Sem nada dizer, ela desviou novamente o olhar e caminhou na direção oposta à que ele havia surgido, sempre acompanhada do olhar dele, que a esperou ir embora, para ter certeza de que poderia partir também.

Havia algo de diferente naquele abraço: uma saudade reprimida, um eu te amo sufocado, uma história inacabada. Não sei dizer ao certo, mas havia algo de peculiar naquele abraço, pois só braços que se conhecem muito bem se abraçam daquele modo tão especial.

MaVi

#canIhaveahug? #omundodemavi