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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Natal Pertence às Crianças

Foi uma noitada até que boa pra um 23 de Dezembro: duas doses de Jack Daniels, alguns shots de José Cuervo, meio maço de Malboro Vermelho; uma menina embriagada, um Natal arruinado, né?
                É, eu odiava o Natal.  
                Natal pra mim já deixara de fazer sentido há muito tempo. Nunca fui do tipo religiosa, Igreja sempre foi sinônimo de “as chatisses a que sou obrigada pelos meus pais”e Natal era o Ó da hiprocrisia. Aliás, por diversas vezes já me questionei se as pessoas de fato sabem o que se comemora no Natal, além da gula e do consumismo. Além da vaidade de fingir que se tem uma família linda, unida e feliz. Ainda bem que inventaram o Papai Noel, talvez ele seja a coisa mais real que exista no Natal.
                Já eram 6:30 da manhã quando eu voltava pra casa. Minha cabeça latejava e eu só conseguia imaginar o som estridente da voz da minha mãe me acordando a dali algumas horas pra ajudá-la com os preparativos do Natal.
                “Onde você guardou os enfeites de mesa?”
                Eu odeio o Natal.
                “Já colocou o Peru no Forno? O pudim ainda tá no fogo? Vai queimar!”
                Eu odeio o Natal.
                “Já escolheu sua roupa? Ainda não tomou banho? Tem que estar bonita! Suas primas vêm sempre tão arrumadas! ”
                Meu Deus, desculpa eu a hipocrisia, mas eu odeio o Natal.
                Ergui o volume do rádio pra ver se calava a boca daquele meu superego inconveniente tranvestido de mãe. Deixe-me em paz, será que eu não posso simplesmente não gostar do Natal?
                NÃO EU NÃO PODIA! E foi o próprio rádio quem jogou isso na minha cara ao começar a tocar aquela velha e conhecida música de Natal da Simone “Então é Natal”. Lembra? Aquela que começa te perguntando “e o que você fez?” e que diz que Natal é coisa "do velho e do novo”, “do amor como um todo” e termina falando de Hiroshima e Nagasaki. Na boa, acho aquela música um puta apelo emocional, como se eu fosse obrigada a me comportar direitinho pra ser recompensada por isso depois. (E que tipo de recompensa? Hein? Será que eu quero?) O problema é que eu, assim como muitos, eu acredito, cresci ouvindo aquela música no Natal e quando ela começou a tocar no rádio foi a vez dos meus pensamentos flutuarem.
                E eu me lembrei da época em que, pequena, esperava ansiosa pelo Natal. E não só por causa dos presentes – mas principalmente por eles – mas também porque Natal era quando a casa estava em festa. Lembrei que Natal era quando eu via um montão de gente que vinha de longe. Tá certo que pra maioria eu não dava a mínima, mas tinham alguns poucos que eu gostava muito e que era só no Natal quando eles vinham. Alguns que, inclusive, nunca mais verei. Lembrei que Natal era quando eu ainda acreditava que meus pais se amavam, pelo menos eles fingiam bem isso, e quando nenhum deles tinha que dormir cedo pra trabalhar no dia seguinte. E era só no Natal quando a nossa família estava completa. Lembrei que só no Natal eu não brigava com o meu irmão, já que ele, entretido com os seus brinquedos, esquecia de mim e das minhas bonecas. Natal era quando eu podia ficar acordada até de madrugada e era a única ocasião durante a minha infância em que eu dormia picado, já que acordava diversas vezes durante a noite pra conferir se meus brinquedos estavam lá ou se tinham sido só sonhos. Lembrei que no Natal eu podia comer quantos doces quisesse que nenhuma cárie iria me pegar. Lembrei que Natal era quando eu me sentia feliz ao ir dormir e continuava feliz ao acordar, sabendo que aquela comida gostosa ainda estaria lá.
                Eu não me lembro da música acabar e demorou ainda um tempo mais pra eu conseguir me situar. Durante aqueles poucos instantes em que estive longe eu revivi o Natal que o tempo havia levado de mim. O verdadeiro espírito de Natal que eu conheci quando criança mas que, infelizmente, eu deixei morrer junto ao envelhecimento do meu próprio espírito. E senti que a minha maior ingenuidade tinha sido odiar o Natal pelo ódio que eu mesma acumulara do mundo e das pessoas. Não, eu não podia simplesmente odiar o Natal; eu não tinha esse direito. O Natal, o verdadeiro Natal não pertencia a mim nos meus arrogantes 23 anos, porque o Natal não pertence aos adultos que nos tornamos, mas vive junto a nós na lembrança da criança que um dia fomos.
                Minha cabeça ainda latejava quando eu cheguei em casa. Com alguma sorte conseguiria dormir umas 3 horas. Olhei a árvore de Natal no canto da sala e abaixo dela um embrulho com o meu nome. Perguntei-me se eu realmente merecia ganhar alguma coisa no Natal. Não, eu não merecia. Mesmo assim, dormi picado imaginando, ansiosa, o que conteria o tal embrulho.  
 
 
                                                                                                                     MaVi
 
#natal #escrevaescrevaescreva #keeponwriting #omundodemavi

domingo, 30 de novembro de 2014

Teu Eu

Deixa a música rolar, deixa a vida acontecer: pra quê tanta pressa? Lugar melhor não há a conhecer do que o interior do nosso próprio ser.

Põe de canto as coisas tuas, senta aqui do lado meu, fuma só um cigarro mais; conte-me mais sobre você.

O amanhã pra mim não serve; amanhã nossos sonhos e medos serão outros, nosso hoje será pouco.

Então fica mais alguns instantes, abraça-me nos braços teus, beija os lábios meus, envolve-me no teu eu.

MaVi
#teueu #escrevaescrevaescreva #keeponwriting #omundodemavi

domingo, 2 de novembro de 2014

Insônia

Insônia? É, insônia! Sabe o que é? É que, no fundo, eu gosto mesmo é da noite. É, da noite. A noite me intriga. Porque é quando a noite vem que os sentimentos afloram e que as pessoas são mais intensas. É sempre a noite que guarda as melhores festas, os maiores porres e os beijos mais quentes. Aliás, lembra daquela "noite" inesquecível? Mas é à noite, também, que a solidão bate forte, que a casa, escura, fica sombria e que a menina, sozinha, olha a cama vazia e chora abraçada ao travesseiro. É sempre à noite; nunca de dia. E enquanto os dias se repetem, viram rotina, a noite se renova, se inova e traz consigo sempre uma nova história. Insônia, né? É assim que eles chamam. Pois é. É realmente uma pena que pra eles a noite seja feita pra dormir.

#insônia #escrevaescrevaescreva #keeponwriting #omundodemavi 

MaVi

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Tem Sempre Aquele

Tem sempre aquele que rouba a cena, pelo menos a sua. É sempre ele que, quando chega, todo o resto perde a graça. É sempre ele que faz o mundo andar em câmera lenta, enquanto o seu interior entra em completa convulsão. É perto dele que as pernas tremem, que as mãos suam e que o coração parece querer pular pela boca. É só pensar no sorriso e no perfume dele que você estremece da cabeça aos pés. É pra ele que um simples “oi” se torna a coisa mais difícil de dizer. É só pra ele que você vai pensar duas vezes antes de mandar um "sms" perguntando se tá tudo bem. É ele quem te faz perder o controle; não fosse ele, você disfarçaria bem que é normal. É ele o seu ponto fraco, o seu calcanhar de Aquiles. Foi pensando nele que você passou a noite em claro, ou que deixou de estudar pra prova mais difícil, ou que virou três doses de tequila na balada; e se bobear, eu não duvido, ainda fez as três. São as semelhanças com ele que te chamaram atenção naquele outro. E, mesmo este outro sendo muito melhor que ele, só ele te abraça daquele jeito que você sabe como.
Pois é, tem sempre aquele que, valha muito ou que não valha nada, o coração procura em meio à multidão. 
Sei lá, né, vai entender?! A vida tem dessas.

#ele #amor #escrevaescrevaescreva #keeponwriting #omundodemavi

MaVi

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Amores Inventados - Estagiária

Pelo modo como reagiu, eu causara nele o mesmo desconforto que ele em mim. O mesmo desconforto, encarado, porém, de formas tão irritantemente distintas, em razão de realidades tão humilhantemente - pelo menos pra mim - distantes. Enquanto eu fazia de tudo pra desviar os olhos dos seus, ele fazia justamente o contrário. E eu queimava por dentro ao sentir que ele lançava um olhar demorado, reparando cada pedaço de mim: desde os cabelos presos pra trás pela tiara de pérolas, passando pelo singelo decote que a camisa social permitia, descendo até minhas unhas mal feitas e a saia barata dessas lojas de departamento, terminando junto ao salto que ele nunca entenderia como se equilibrar sobre. Ele sabia como me deixar sem jeito, como me desarmar. E eu sentia que, no fundo, ele fazia tudo de propósito, como se precisasse descontar em mim a raiva de não controlar o desconcerto que eu também causava nele. Nós mal nos falávamos; eram sempre somente algumas poucas e mal pronunciadas palavras obrigadas, que dizem o necessário, mesmo sem quase nada dizer. Sempre assim: uma guerra de nós quatro; cada qual de nós contra nós mesmos. E todo dia, quando eu fechava a porta atrás de mim, só conseguia pensar no dia a menos que faltava pra completar os dois anos e meio de estagiária que ainda me restavam pela frente. Então respirava livremente pela primeira vez desde que deixara aquela sala, numa mistura de alívio e decepção.

#amoresinventados #estagiária #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Chorar não é preciso, mas necessário.

Às vezes é necessário chorar; chorar muito. Deixar correr as lágrimas, borrar a maquiagem. Chorar pra aliviar o coração, pra lavar a alma. Chorar mesmo que seja  sem um porquê definido e ainda que escondido, só pela necessidade de desabafar o indizível, o inexplicável. Chorar porque não se tem medo de chorar. Aliás, chorar porque chorar não é uma virtude dos fracos, mas dos que têm coragem de transparecer que sentem. Que sentem dor, sentem angústia, sentem tristeza, sentem amor, sentem saudade, e por que não, felicidade.  Chorar porque, no fundo, ninguém é indiferente aos sentimentos do mundo. Chorar porque chorar é humano e, às vezes, tudo que a gente precisa é se permitir chorar; chorar muito, até a vontade de chorar passar.   

Mavi

#chorar #chorarépreciso #escrevaescrevaescreva #keeponwriting #omundodemavi

terça-feira, 16 de setembro de 2014


Pobre da sociedade pós-moderna, que se acha tão culta, tão crítica, tão dona de si. Desconhece, contudo, a regra básica de que informação, conhecimento e sabedoria são conceitos distintos e que não se confundem. Como resultado, a tal "sociedade da informação" vive, com o advento da internet e das redes sociais, seu maior paradoxo: quanto mais informação se tem, menos conhecimento se absorve e ainda menos sabedoria se produz. 

MaVi

#sociedadepósmoderna #críticosdasredessociais #tolos #escrevaescrevaescreva #keeponwriting #omundodemavi

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Amores Inventados - O Cara do Metrô


O professor terminou a aula mais tarde naquela noite, como se ter aula até onze e quinze já não fosse suficiente. Onze e vinte, onze e meia, pouco importa. Qualquer minuto a mais parecia durar uma eternidade. Já nem sabia mais se o velho gagá lá da frente falava de Aristóteles, Kant ou Marx. Tanto faz, já morreram todos! Só quero ir embora daqui.

                Nem esperei a turma se levantar. Até aquela pirralhada toda se mover seriam mais 2o minutos de espera e eu corria o sério risco de perder o último carro do metrô. Não tenho saco, nem dinheiro pra isso.

                Eu era dessas meninas classe média baixa do interior que se muda pra capital a fim de estudar e, quem sabe, virar gente se inserindo na classe média alta paulistana. Da mesada que eu recebia dos meus pais, quase tudo ia pra pagar o aluguel do moquifo em que morava. A minha Bolsa Estágio eu rateava entre as contas de água, luz, comida, transporte, etc.

                Carro? Nem pensar. Mal tinha dinheiro pra bancar a manutenção da minha bicicleta.

                No início me revoltei com a merda da tal sociedade capitalista e com o meu status de menina classe baixa. Depois me conformei e passei a aceitar que durante alguns bons anos eu não iria poder me dar ao luxo de perder  o metrô pra casa.   

                Caminhei sozinha até a estação mais próxima da Sé.  Se me assaltarem, que levem tudo. Deixem só a minha dignidade, porque ela precisa descansar pra trabalhar amanhã.

                Apertei o passo quando vi no relógio que faltavam cinco minutos pro metrô encerrar suas atividades. 

                Coração pulando pela boca e eu quase pulando a catraca pra economizar R$ 1,50 da passagem de estudante.  Escadas rolantes paradas e eu numa vontade imensa de me jogar lá de cima, só pra chegar mais rápido lá embaixo.  Desisti da idéia. Fui de escada convencional. Quase tropecei no último degrau quando ouvi o som do vagão se aproximando nos trilhos. Provavelmente o último, meu Deus! Corri. Saltei pra dentro do carro segundos antes da sirene tocar e das portas se fecharem.

                Ufa, consegui. Infelizmente, consegui.

                Lá de dentro eu vi, estancado atrás da linha amarela, aquele alguém que não teve a mesma sorte que a minha. A calça skinny, a camisa de alguma banda alternativa, a toquinha caída atrás, o tênis Vans cano alto. Era o típico playboy alternas, desses hipstersinhos modernos que me enojavam. Diferentemente de mim, ele provavelmente não pertencia àquele lugar. Ao contrário de mim, ele provavelmente podia se dar ao luxo de bancar um táxi até em casa, ou até a lua se preciso fosse. Entristeci-me, sem entender porque, por não poder descer e dividir o táxi com ele.  

                O metrô partiu e eu nunca mais o vi, mas sonhei com aquele tênis vans cano alto ainda mais duas vezes naquela mesma semana.  

MaVi

#amoresinventados #ocaradometrô #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

quarta-feira, 10 de setembro de 2014



#saudades #aospedaços #meuspedaços #despedaços #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

domingo, 17 de agosto de 2014

domingo, 3 de agosto de 2014

As Our Parents


It was at the end of the afternoon, the clock said almost 5:30 pm. I was just sitting in the kitchen, drinking my coffee and looking through the window. Outside, the birds were playing with the garden’s bushes. For them it seemed like each new day was bringing a reason to celebrate. How wonderful it was to stay over there watching that show of the nature. 

On the table, the radio was talking softly as if it was trying not to disturb my thoughts. It worked for a while, until that known song, innocently, started to play, “In spit of we had done everything we did, we still are the same and we still live as our parents.” Oh God, I still remember the day when my mother played me this song. She was staring in her closet, looking for something, maybe a new pair of sandals or a new necklace – I’ll never understand my mother and her mess. Then she found that old CD, one she had almost forgotten. Excited, she put it in the CD player, started to sing, as loud as terrible, and to dance on the bed, as if she were 18 again. Whoa, I’ve never seen my mother as a girl, how she must have been pretty.

After this, I always think of my mom when I listen to this song. When it happens I can feel the smell of her perfume. I can see her playing with my hair and doing my make-up, and I can imagine her eyes shining as a girl who took care of her favorite doll. I also can hear her calling my whole name every time I left my things scattered throughout the house. She hardly knew that it was she who had taught me.

At that moment, there I was again, sitting in the kitchen, drinking my coffee, and looking through the window, exactly how we used to. It’s funny how life works, even if we try to do everything differently, we always will be as our parents.

MaVi

#asourparents #mom #mother #mãe #parents #mylove #teamo #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Complicity



Every night, it was the same. When the clock said time to go to bed, there were no arguments capable of removing this idea from Daddy’s mind. Time to go to bed was time to go to bed.
On my long way there, I had so many things to get done. Brushing my teeth and my hair; wearing my pajamas; making sure that my backpack would be organized for the next day; and grabbing Malu, my little cow, were just some of them. But, there was one thing for which I would never be responsible.
“Emily, look at this mess in your bed. How can someone sleep in here? ,” Daddy said it every single day, as though he wasn’t accustomed to it yet.
Still complaining, Daddy ordered me to lay down in my bed, so he could tidy it up. I obeyed and remained there, immobile. Then, Daddy stretched the edge of the sheet, covering my head, to fold it over the blanket later. For a little while, I disappeared. For a little while, I was invisible. No one, besides Daddy, could see me there. I was hidden under my sheet, and Daddy was the only one who could inform against me. He could be my traitor, but I had no doubts that, instead of it, he would be my accomplice and wouldn’t tell anyone that I was just right there.
One day, Meg, my older sister, came into my room when Daddy had just hid me. She was crying because she had, once again, lost her pacifier. I remember her pampered crying, just like a baby who is falling asleep, coming closer and closer. She would discover me. And, if she discovered me, no longer I would have my hideout. All of my body was petrified. One movement could have turned me in. However, Daddy was there to protect me. Therefore, he grabbed Meg in his arms and took her away from there, keeping safe our secret.
From that moment, our complicity had been signed, and our bond, deepened. And I? I had learned that, no matter how angry Daddy is at me, and even if I had led my bed a mess, he would always be willing to protect me.   

MaVi

#cumplicidade #complicity #protection #dad #pai #meuherói #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

domingo, 27 de julho de 2014

O Poeta

A única diferença entre o poeta e o não-poeta é que onde este enxerga o costumeiro, o usual e o ordinário, aquele enxerga tão somente, mas não apenas, o costumeiro, o usual e o ordinário dando origem à mesma história, numa nova versão.

A história sempre se repete; felizardos somos, pois, em ter quem a expresse de maneira tão naturalmente extraordinária.

#poeta #keeponwriting #escrevaescrevaescreva #omundodemavi

MaVi


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Amores Inventados - ÔNIBUS

Entrei no ônibus num dia pós noite mal dormida. O cabelo ainda molhado, a maquiagem feita às pressas e a cara de poucos amigos. Não me olhe com esse jeito de quem diz “bom dia”, velhinha dos infernos. Não fosse você quem sabe eu teria um lugar pra sentar.
             “Saldo indisponível”
            “Passa no crédito.”
            “Oi?”
            “Aceita débito?”
            “Você é idiota?”
            “Ahan, sou.”
            A catraca girou e meu cérebro quase foi jogado pela tangente. Queria vomitar meus próprios sentidos se possível. Meus olhos artificialmente abertos guiavam meus passos mecânicos até um mínimo espaço vazio no final do carro. Parei, em pé, ao lado da patricinha, tão majestosamente acomodada, que cheirava Dolce e Gabbana. Tão impecável! Deve tá enojada com a minha presença, Tadinha. Enfiei o fone nos ouvidos. Rock pesado pra ver se revivo. E imaginei o que aquela Barbie pensaria se ouvisse o que eu ouvia, enquanto o sertanejo da modinha rolava solto no seu iphone 5.
            Fiquei perdida no tempo, desejando a sorte que o azar daquele dia não traria. Dez, quinze, trinta minutos assistindo ao entra e sai das pessoas mais estranhas e bizarras. Cada uma com sua mania; cada qual com sua história; e eu, lutando pra me manter em pé.
            Eis que por alguns segundos eu despertei pra vida. Foi um curto instante, quando o toque desesperado de uma mão encontrou a minha junto ao apoio superior. Uma outra mão, vinda de um outro corpo que tentava, assim como o meu, se equilibrar. No meu virar de rosto eu não distingui os traços do seu rosto, mas vi os detalhes dos seus olhos que, como os meus, se mantinham fixamente abertos, e pude sentir o hálito de café que exalava da sua boca. Engoli em seco o gosto amargo do café que ainda revirava o meu próprio estômago.
            O ônibus parou novamente. Ele desceu. Eu quis chamá-lo, pedir que me olhasse de novo e só mais uma vez. Mas era tamanha a minha luta pra me manter ali em pé que eu mal tinha forças pra abrir a boca. Poderia ter sido um grande amor casual - eu pensei - mas, por culpa da minha preguiça de viver, foi só mais um na minha coleção de amores inventados. 
MaVi

#amoresinventados #omundodemavi

terça-feira, 15 de julho de 2014

Angústia

E um dia veio que ela se cansou de andar. Aquele andar em círculos, em vão. Nada fazia sentido, nem o caminho com suas flores, nem a paisagem com o seu horizonte. Toda a beleza ao redor diluía-se, desmanchava-se junto ao aperto que sentia por dentro, junto ao imenso vazio que a consumia. O único som que se ouvia era da sua respiração sufocante. Seu coração batia num ritmo insuportavelmente acelerado. Então, ela olhou pro céu. E nada. Nem a sua música predileta parecia querer consolá-la. Era como se ela vivesse num mundo de faz-de-contas. Mas um faz-de-conta sem príncipes e sem finais felizes. Não era dor. Lágrimas não existiam. Por mais que tentasse, sua angústia era seca. Foi-se o cor-de-rosa da menina que nela existia. Foram-se os sonhos que um dia nela brotaram. Não, não me acorde agora, eu não quero acordar, ela pensava. Eu quero ir além, quero saber o final desse pesadelo. Quero entender o porquê dele nunca me abandonar. Não se preocupe, menina, isso não é só sonho e ninguém irá acordá-la.

MaVi

#angustia #seraqueerasosonho? #omundodemavi

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Aquele Abraço

Havia algo de diferente naquele abraço, algo peculiar.

Ele cruzou o salão todo em direção a ela. Veio com calma, passos lentos e destino certo. Sabia bem onde queria chegar. Ela, em contrapartida, percebendo a movimentação e o olhar que a perseguia, desviou o seu próprio, fingindo-se alheia a tudo aquilo, mas incapaz de se retirar de cena, como se tentasse, em vão, disfarçar o que no fundo queria. Ele chegou, parou bem em frente a ela. Encurralada, ela elevou o olhar até os olhos que a admiravam fixamente. Aproximou-se sem quebrar o silêncio. Estendeu os braços de encontro aos braços estendidos que a esperavam.

Os dela por baixo, em torno da cintura, a cabeça encostada nos ombros dele, num movimento de quem pede, inconscientemente, proteção. Os dele por cima, em volta dos ombros dela, envolvendo por inteiro aquele pequeno e frágil corpo de menina, como quem oferece, conscientemente, a proteção requisitada. Os dele por cima e os dela por baixo, no sincronismo de um encontro entre bons e velhos conhecidos.

Permaneceram ali, abraçados em silêncio, durante um espaço de tempo suficiente pra que fosse dito entre eles tudo que as palavras não saberiam, nem conseguiriam dizer.

Descruzaram os braços; ela sorriu, ele sorriu de volta. Sem nada dizer, ela desviou novamente o olhar e caminhou na direção oposta à que ele havia surgido, sempre acompanhada do olhar dele, que a esperou ir embora, para ter certeza de que poderia partir também.

Havia algo de diferente naquele abraço: uma saudade reprimida, um eu te amo sufocado, uma história inacabada. Não sei dizer ao certo, mas havia algo de peculiar naquele abraço, pois só braços que se conhecem muito bem se abraçam daquele modo tão especial.

MaVi

#canIhaveahug? #omundodemavi

domingo, 13 de julho de 2014




Minha terapia, minha droga, meu vicio ;)
#keeponwriting #escrevaescrevaescreva #addiction #omundodemavi

sexta-feira, 11 de julho de 2014



Só por isso eu esqueci a toalha três vezes, num único final de semana.
Não fica bravo, pai, só tava matando a saudade ;)
#teamopai #dad #meuheroi #saudadesdecasa #missinghome #home #omundodemavi

quinta-feira, 10 de julho de 2014

O Jogo Que Chocou o Brasil


Alemanha 7X1 Brasil
O Jogo que chocou o Brasil e calou o país do Futebol.
#Brasil #Copa2014 #CopadoMundo #BrasilXAlemanha #Foifeio #Triste #omundodemavi

terça-feira, 8 de julho de 2014

A Copa dos Nossos Sonhos Não Foi no Brasil



Eu tinha 22 anos na época, mas me lembro como se fosse hoje. Dois mil e quatorze, Copa do Mundo do Brasil: o país em festa! Copa do mundo no Brasil é só em sonho, nem acredito que isto tá acontecendo comigo, eu pensava.
Nas ruas, o entusiasmo e esperança das crianças, que de caras pintadas assistiam à Copa pela primeira vez, e a experiência dos mais velhos, receosos com o time brasileiro, mas que mesmo já calejados com as decepções do futebol, ainda se permitiam a diversão de completar mais um, dois e até três álbuns de figurinha. Pra dizer a verdade, eu não sei ao certo em qual dos dois grupos eu me encaixava. Se bem que eu acredito que a Copa tem esse poder de despertar, bem lá no fundo quiçá, a esperança até dos mais desacreditados, fazendo a todos sorrir - e chorar - como se crianças fossem.
A seleção brasileira não fazia AQUELA campanha: vitória sofrida contra o Chile nas oitavas; apertada contra a Colômbia nas quartas de final, mas tudo bem, tudo certo. O Brasil é sempre assim mesmo, vai aos tropeços, crescendo a cada rodada e jogando conforme a dificuldade imposta pelo adversário. Pelo menos era o que afirmavam os mais entendidos.
Oito de julho. A primeira partida da semi-final disputada entre dois gigantes do esporte: Brasil e Alemanha. O Mineirão vestido de verde e amarelo trazia consigo uma energia única. Torcida mineira tem fama de ser viva, vibrante, contagiante! Palco ideal pra mais uma grande festa da nossa seleção.
 E lá vinham nossos heróis, liderados pelo capitão substituto e novo ídolo dessa nova geração. David Luiz, a cabeleira respectiva, trazia nas mãos a camisa de número 10 de Neymar- o jovem craque, injustamente lesionado - e no rosto, a seriedade de quem, sabendo o adversário que tem pela frente, chama para si toda a responsabilidade da batalha. Era um time jovem, inexperiente e imaturo, talvez, mas aparentemente unido e disposto a encantar a torcida ( e por que não o mundo?).
Apito do juiz. Início do primeiro tempo. Brasil, sempre Brasil. Cadê você, Alemanha? E a torcida vibrava com o início de jogo tão gostosamente gingado pelos pés ligeiros dos nossos meninos. Chute a gol do Marcelo. Uhhhh!! Foi quase. Mais alguns passes. A bola roubada, que gostoso é a Copa do Mundo. O futebol arte contra a técnica e frieza germânicas.
É, mas a alegria de povo sofredor parece durar pouco mesmo, e dessa vez não durou nem o suficiente pra fazer com que a tal cantoria do “eu sou brasileiro...” ou de que “o campeão voltou” chegasse a incomodar a concentração alemã. Já aos 10 minutos...o escanteio bem batido, a zaga aberta e gol de Thomas Muller pra abrir o placar da rival Alemanha. Porraaa!! Que merdaaa!!!
 Mas foi só um, ainda dá, aqui é Brasil!Vamboraaa! Pra cimaa!
Ah, a tal esperança! A boa e sincera fé de um povo fiel a seu time.
Um só não, Brasil, time grande não se contenta com pouco; era o início da maior tragédia do futebol brasileiro. Um, dois, três - Davidd Luizz?? – quatro – Julio César?? - cinco - qualquer umm, Meu Deus!!- seis, sete. SETE. E só dava Alemanha.
Do lado brasileiro, o branco, a apatia, a incredulidade. Um Brasil que nem se podia chamar de Brasil. A pintura do menino borrada pelas lágrimas; lágrimas de vergonha também na expressão dos mais velhos, em cujos anos de vivência nunca haviam experimentado tamanha decepção no futebol. Nem o gol de honra de Oscar ao final do segundo tempo foi capaz de quebrar o estado de choque da torcida.
Vexame, humilhação, a imprensa insistia em dizer.
O Brasil e o povo brasileiro viveram seus 90 minutos mais longos e mais angustiantes. A maior goleada da história das Copas do Mundo foi contra o País do Futebol, na tão sonhada Copa do Brasil. Quem diria tamanha ironia, não!? Seria até engraçado, se não fosse trágico, como dizem por ai.
A festa acabara sem explicação, como se um mero convidado tivesse simplesmente resolvido cancelar o espetáculo. Era o sonho transformado em pesadelo; o sorriso, o entusiasmo, em lágrimas e dor.
Eu tinha 22 anos, eu me lembro. Eu tentei me segurar, tentei desviar o olhar, consolar o coração, fingir que era só mais um jogo. O futebol é assim, não é? Mas não deu. Eu também sou brasileira. Eu também nasci no país do futebol e cresci sofrendo pela nossa seleção e ver o Brasil perder do modo como perdeu, dentro de casa, me partiu o coração.
David Luiz, chorei com você. Aliás, eu só não, o país todo. A Copa dos nossos sonhos, infelizmente, não foi no Brasil.
MaVi  

#Brasil #Copa2014 #CopadoMundo #Worldcup #BrasilXAlemanha #omundodemavi

Gente Grande Não Tem Apontador



Quebrou a solidão daquela noite com a genialidade da criança que nela ainda existia. Escrivaninha, lamparina, folha A4, e, ah, os LÁPIS-DE-COR.
Alguns rabiscos aqui, outros ali. A coordenação que o tempo trouxera não substituía a imaginação fértil que este mesmo tempo levara embora.
Um molde pra ajudar.
Tá muito “reto”, pensou. Incomodou-se com a falta de maleabilidade, com o excesso de regras.
Sentiu saudades da disformidade dos desenhos de pequena.
Não, não tá legal.
Borracha.
Os anos haviam trazido uma mania irritante de perfeição.
Mais alguns rabiscos. Tentou uma reta mais curva.
Borracha? De novo?
Ah, chega! 
Não era aquilo que planejara, mas era assim mesmo que iria ficar.
Adulto tem isso de ruim: é impaciente, tem pressa por ver tudo acabado, e, às vezes, a ânsia de terminar supera até mesmo a cobrança pelo perfeccionismo.
Vamos ao que interessa: co- lo-RIR.
Abriu o estojo de Lápis-de-Cor Faber Castel 24 CORES  há tantos anos esquecido.
Rosa! COR-DE-ROSA. Justo o rosa, o mais acionado, que estava SEM pontaaaa!! Por quê, Deuss???? (Adulto também tem essa coisa de achar que o destino conspira contra, é o tal do azar, carma, sei lá como chamam isso.)
Em vão, revirou as gavetas. NADA.
Desapontada, sentou-se a olhar a obra de arte inacabada.
E a dura realidade daquela noite a tomou por completo: GENTE GRANDE NÃO TEM APONTADOR. 
MaVi 

#saudadesdesercrianca #omundodemavi

domingo, 22 de junho de 2014

"Projeto Startup"

Eu decidi recomeçar, renovar, inovar.
Quero novas emoções, novas paixões, novos sorrisos, novas histórias pra contar.
Quero deixar de lado o que passou e levar comigo só o que de bom ficou.
Projeto "Startup" em vista, porque o mais importante e dar o primeiro passo.
MaVi 
#StartupProject #LetsdoIt #omundodemavi

sexta-feira, 20 de junho de 2014