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terça-feira, 8 de julho de 2014

Gente Grande Não Tem Apontador



Quebrou a solidão daquela noite com a genialidade da criança que nela ainda existia. Escrivaninha, lamparina, folha A4, e, ah, os LÁPIS-DE-COR.
Alguns rabiscos aqui, outros ali. A coordenação que o tempo trouxera não substituía a imaginação fértil que este mesmo tempo levara embora.
Um molde pra ajudar.
Tá muito “reto”, pensou. Incomodou-se com a falta de maleabilidade, com o excesso de regras.
Sentiu saudades da disformidade dos desenhos de pequena.
Não, não tá legal.
Borracha.
Os anos haviam trazido uma mania irritante de perfeição.
Mais alguns rabiscos. Tentou uma reta mais curva.
Borracha? De novo?
Ah, chega! 
Não era aquilo que planejara, mas era assim mesmo que iria ficar.
Adulto tem isso de ruim: é impaciente, tem pressa por ver tudo acabado, e, às vezes, a ânsia de terminar supera até mesmo a cobrança pelo perfeccionismo.
Vamos ao que interessa: co- lo-RIR.
Abriu o estojo de Lápis-de-Cor Faber Castel 24 CORES  há tantos anos esquecido.
Rosa! COR-DE-ROSA. Justo o rosa, o mais acionado, que estava SEM pontaaaa!! Por quê, Deuss???? (Adulto também tem essa coisa de achar que o destino conspira contra, é o tal do azar, carma, sei lá como chamam isso.)
Em vão, revirou as gavetas. NADA.
Desapontada, sentou-se a olhar a obra de arte inacabada.
E a dura realidade daquela noite a tomou por completo: GENTE GRANDE NÃO TEM APONTADOR. 
MaVi 

#saudadesdesercrianca #omundodemavi

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