Eu
tinha 22 anos na época, mas me lembro como se fosse hoje. Dois mil e quatorze,
Copa do Mundo do Brasil: o país em festa! Copa do mundo no Brasil é só em
sonho, nem acredito que isto tá acontecendo comigo, eu pensava.
Nas
ruas, o entusiasmo e esperança das crianças, que de caras pintadas assistiam à
Copa pela primeira vez, e a experiência dos mais velhos, receosos com o time brasileiro, mas que mesmo já calejados
com as decepções do futebol, ainda se permitiam a diversão de completar mais
um, dois e até três álbuns de figurinha. Pra dizer a verdade, eu não sei ao
certo em qual dos dois grupos eu me encaixava. Se bem que eu acredito que a
Copa tem esse poder de despertar, bem lá no fundo quiçá, a esperança até dos
mais desacreditados, fazendo a todos sorrir - e chorar - como se crianças fossem.
A
seleção brasileira não fazia AQUELA campanha: vitória sofrida
contra o Chile nas oitavas; apertada contra a Colômbia nas quartas
de final, mas tudo bem, tudo certo. O Brasil é sempre assim mesmo, vai aos tropeços, crescendo a cada
rodada e jogando conforme a dificuldade imposta pelo adversário. Pelo menos era o que afirmavam os mais entendidos.
Oito de julho. A primeira partida da semi-final disputada entre dois gigantes
do esporte: Brasil e Alemanha. O Mineirão vestido de verde e amarelo trazia
consigo uma energia única. Torcida mineira tem fama de ser viva, vibrante,
contagiante! Palco ideal pra mais uma grande festa da nossa seleção.
E lá vinham nossos heróis, liderados pelo
capitão substituto e novo ídolo dessa nova geração. David Luiz, a cabeleira
respectiva, trazia nas mãos a camisa de número 10 de Neymar- o jovem craque,
injustamente lesionado - e no rosto, a seriedade de quem, sabendo o adversário
que tem pela frente, chama para si toda a responsabilidade da batalha. Era um
time jovem, inexperiente e imaturo, talvez, mas aparentemente unido e disposto
a encantar a torcida ( e por que não o mundo?).
Apito
do juiz. Início do primeiro tempo. Brasil, sempre Brasil. Cadê você, Alemanha?
E a torcida vibrava com o início de jogo tão gostosamente gingado pelos pés
ligeiros dos nossos meninos. Chute a gol do Marcelo. Uhhhh!! Foi quase. Mais
alguns passes. A bola roubada, que gostoso é a Copa do Mundo. O futebol arte
contra a técnica e frieza germânicas.
É,
mas a alegria de povo sofredor parece durar pouco mesmo, e dessa vez não durou nem
o suficiente pra fazer com que a tal cantoria do “eu sou brasileiro...” ou de
que “o campeão voltou” chegasse a incomodar a concentração alemã. Já aos 10
minutos...o escanteio bem batido, a zaga aberta e gol de Thomas Muller pra abrir
o placar da rival Alemanha. Porraaa!! Que merdaaa!!!
Mas foi só um, ainda dá, aqui é Brasil!Vamboraaa!
Pra cimaa!
Ah,
a tal esperança! A boa e sincera fé de um povo fiel a seu time.
Um
só não, Brasil, time grande não se contenta com pouco; era o início da maior
tragédia do futebol brasileiro. Um, dois, três - Davidd Luizz?? – quatro –
Julio César?? - cinco - qualquer umm, Meu Deus!!- seis, sete. SETE. E só dava Alemanha.
Do
lado brasileiro, o branco, a apatia, a incredulidade. Um Brasil que nem se
podia chamar de Brasil. A pintura do menino borrada pelas lágrimas; lágrimas de
vergonha também na expressão dos mais velhos, em cujos anos de vivência nunca
haviam experimentado tamanha decepção no futebol. Nem o gol de honra de Oscar ao final do segundo tempo foi capaz de quebrar o estado de choque da torcida.
Vexame,
humilhação, a imprensa insistia em dizer.
O
Brasil e o povo brasileiro viveram seus 90 minutos mais longos e mais
angustiantes. A maior goleada da história das Copas do Mundo foi contra o País
do Futebol, na tão sonhada Copa do Brasil. Quem diria tamanha ironia, não!? Seria até
engraçado, se não fosse trágico, como dizem por ai.
A
festa acabara sem explicação, como se um mero convidado tivesse simplesmente
resolvido cancelar o espetáculo. Era o sonho transformado em pesadelo; o
sorriso, o entusiasmo, em lágrimas e dor.
Eu
tinha 22 anos, eu me lembro. Eu tentei me segurar, tentei desviar o olhar,
consolar o coração, fingir que era só mais um jogo. O futebol é assim, não é?
Mas não deu. Eu também sou brasileira. Eu também nasci no país do futebol e
cresci sofrendo pela nossa seleção e ver o Brasil perder do modo como perdeu, dentro de casa, me
partiu o coração.
David
Luiz, chorei com você. Aliás, eu só não, o país todo. A Copa dos nossos sonhos, infelizmente, não foi no Brasil.
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